11.03.2012


Um tiro no escuro. Um beco sem saída. Acabava ali. No entanto queria ir mais para dentro da espiral, mergulhando com toda a sua consciência no buraco sem fundo. Um salto de pára-quedas. Queda livre. E lá em baixo esperava que um colchão a recebesse depois da sua investida sobre o céu. Uma loucura. O impulso de que espera não se arrepender. Mas vai. Porque nada dura para sempre. E o pensamento é efémero. As memórias são subjectivas; e os sonhos inalcançáveis. O caminho divide-se e volta a si mesmo demasiadas vezes. Ela cansa-se. Não desiste. É um hábito criado. Andar por andar. Andar para não correr. Andar para não fugir. Mas tenta sempre fugir. Há medo. Há insegurança. Foge! Corre! Oh mas de que vale a pena? Escusado será esconder-se da sua sombra. Uma tormenta que a persegue. E de tormentas já ela se enfadou. De tantas que foram e já assistiu. Cansou-se de ver as estações passarem e o jardim permanecer queimado. Um fogo devastador. Lembra-se ela, todos os dias. Um calor abrasador. Tudo sucumbiu ao poder das línguas vermelhas que reduziram o tudo a um nada levado pelo vento o que se deparasse com ele. Um nada que se espalhou; invisível. E ela tentava apanhá-lo e esconder os vestígios do fogo. Perdeu-se ao chegar tão longe. De que vale ir até ao fundo se não der para voltar à tona? Uma questão permanente em cada movimento. Uma dúvida persistente que insistia em correr às voltas. E dançar lá no alto. Lá no baixo da sua alma. E os movimentos eram bruscos e espontâneos. Mas eram também cuidadosos. E ela lá se deliciava a ver a coreografia elaborada pelos seus tormentos. Que exuberante que era! Para quê deparar-se com um incêndio semelhante que ela sabia que seria mais intenso do que qualquer outro? As estações passavam; a chuva jorrava do céu; o Sol cintilava reflectido na água. Mas Éden permanecia inalterável. Carvão; negro e quebradiço. Um sopro ao de leve e metade levantaria  e seria espalhado por algures. No desconhecido iria jazer uma antes orquídea, reduzida a cinza. Decida estava. Pegaria de novo fogo a Éden, e sopraria mais tarde o que sobrou e resistiu ao vermelho assassino que ela própria tinha pintado.

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