Um tiro no escuro. Um beco
sem saída. Acabava ali. No entanto queria ir mais para dentro da espiral,
mergulhando com toda a sua consciência no buraco sem fundo. Um salto de
pára-quedas. Queda livre. E lá em baixo esperava que um colchão a recebesse
depois da sua investida sobre o céu. Uma loucura. O impulso de que espera não
se arrepender. Mas vai. Porque nada dura para sempre. E o pensamento é efémero.
As memórias são subjectivas; e os sonhos inalcançáveis. O caminho divide-se e
volta a si mesmo demasiadas vezes. Ela cansa-se. Não desiste. É um hábito
criado. Andar por andar. Andar para não correr. Andar para não fugir. Mas tenta
sempre fugir. Há medo. Há insegurança. Foge! Corre! Oh mas de que vale a pena?
Escusado será esconder-se da sua sombra. Uma tormenta que a persegue. E de
tormentas já ela se enfadou. De tantas que foram e já assistiu. Cansou-se de
ver as estações passarem e o jardim permanecer queimado. Um fogo devastador. Lembra-se
ela, todos os dias. Um calor abrasador. Tudo sucumbiu ao poder das línguas
vermelhas que reduziram o tudo a um nada levado pelo vento o que se deparasse
com ele. Um nada que se espalhou; invisível. E ela tentava apanhá-lo e esconder
os vestígios do fogo. Perdeu-se ao chegar tão longe. De que vale ir até ao fundo
se não der para voltar à tona? Uma questão permanente em cada movimento. Uma dúvida
persistente que insistia em correr às voltas. E dançar lá no alto. Lá no baixo
da sua alma. E os movimentos eram bruscos e espontâneos. Mas eram também
cuidadosos. E ela lá se deliciava a ver a coreografia elaborada pelos seus
tormentos. Que exuberante que era! Para quê deparar-se com um incêndio
semelhante que ela sabia que seria mais intenso do que qualquer outro? As
estações passavam; a chuva jorrava do céu; o Sol cintilava reflectido na água. Mas
Éden permanecia inalterável. Carvão; negro e quebradiço. Um sopro ao de leve e
metade levantaria e seria espalhado por
algures. No desconhecido iria jazer uma antes orquídea, reduzida a cinza. Decida
estava. Pegaria de novo fogo a Éden, e sopraria mais tarde o que sobrou e
resistiu ao vermelho assassino que ela própria tinha pintado.
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