Um som. Algo subtil; quase pérfido percorria pelos
aglomerados de habitações desleixadas. Era um quase-que; uma maçã presa por um
fio á frente de um burro para o fazer andar. Convidava a entrar por adentro das
ruas caiadas de escuridão. Uma sombra; um infinito; um tudo que desaguava no
nada. Distingue-se edifícios por detrás dos mesmos, por cimas dos mesmos,
porque os mesmos são mais que eles; Nasce uma curiosidade, um desejo do
desconhecido. Cuidado que é perigo! Pensam indivíduos que se passam por
entendidos. Valorizam um pedaço de carne já meio putrefacta. Uma pena; daria
para salvar e dar aos necessitados ou aos apreciadores e especialistas. Não
interessa. Mundano. Não se valoriza. Um ruído persistente lá fora. Não! Vários.
Um carro a derrapar no asfalto. A chuva a desafiar o vidro das janelas. O vento
assobia por entre os ramos e as folhas não resistem. Deixam-se largar depois de
tanto esforço. E rodopiam no turbilhão que a ventania gera. E depois o
silêncio. Mórbido e frio. Assustador, assassino! Esse sim é o pior som. É a melodia
que não se ouve. E deixa a expectativa pairar durantes instantes infinitos. O fim
que se julga longe. O começo que ainda nem veio. Nem virá. Deceção. Mais outra.
E mais outra. E depois recomeça tudo de novo. Um carro a derrapar no asfalto. A
chuva a desafiar o vidro das janelas. O vento assobia por entre os ramos e as
folhas não resistem. Deixam-se largar depois de tanto esforço. E depois o
silêncio volta para um segundo assalto. Todos se levantam e apreciam o
belíssimo espectáculo. Aplaudem e fazem ovações. Não se questionam. Mas também
quem o fará? Quem o faria? Os que se tomam por loucos, ou que são tomados por
inconscientes. A ironia presente na cidade adormecida. O fim aproxima-se. E o
céu continua gelado. Lá fora geme a trovoada. Cá dentro uma chávena de chá
oscila com o pequeno toque de um sopro. Um assobio. Um pássaro. Um ser que se
esconde na quietude. Na cidade.
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