8.30.2010

Abismo.


Dou por mim trancada no quarto, fechada entre quatro paredes, tudo fechado, nem um pequeno rasgo de sol atravessa as duras paredes brancas, estoros fechados, luz artificial, e apenas reina o silêncio e a solidão.

Nada entra nada sai, apenas se ouve o som do lápis de carvão a roçar na folha de papel branca.
A dança repetitiva que faço com a mão apenas resume todos os sentimentos, indecisões, falhanços, vitórias, e tudo a um simples abismo sem fundo. Não se vê nada dentro dele, talvez seja pelo nevoeiro, talvez pela profundidade dele ou talvez seja apenas por não conter nada lá dentro, preto é a ausência de cor, e é bem provável que o abismo sem fundo seja a ausência de tudo.
Dentro de mim está um abismo, como o do desenho, não tem cor, não tem fundo,não tem nada. Dentro de mim apenas corre sangue pelos vasos sanguíneos, sangue quente, correm fluídos corporais essenciais para a vida humana.
Mas dentro de mim, aquele dentro, que é o fundo, onde não há nada, a não ser pensamentos, sentimentos, e o nosso EU mais genuíno, acaba por não ter nada, acaba por ter tudo e esse tudo ser tanto que se junta tudo e forma o nada, o nada que ocupado todo esse meu interior, esse meu dentro opaco e vazio.
Um dia hei-de fazer uma expedição a essa minha parte misteriosa e oculta, mas por enquanto ainda tenho de preparar tudo,principalmente preparar-me a mim.

Mas até lá, vou-me refugiando dentro do meu quarto, e o que o lápis e a caneta escrevem é o meu sangue, desenhando belas e elegantes formas que acaba por ser sempre o meu interior a viver no exterior.