6.18.2010

O Sr. Tempo


O tempo passa. Ele não passa, ele corre. Corre como estivesse sempre atrasado, e nunca o podemos dizer "acalma-te, tens de aprender a andar sem pressa".
O tempo, o tempo... é a coisa que mais magoa. É única coisa que tanto pode curar, com muita dor, como abrir ainda mais uma ferida por curar, e que talvez nunca se irá curar sempre.
Porque essa ferida, talvez tenha sido tão profunda que, quem sabe, perfurou e despedaçou o coração de uma jovem, como tantas vezes acontece.
E o tempo fá-la remoer, e tocar outra vez nessa ferida fazendo-a deitar lágrimas desnecessárias que a secam por dentro, para depois quando precisar de chorar por uma razão mais razoável já não as tem.
O tempo apaga tantas coisas, apagas as imagens e as memórias que nós queremos guardar para sempre porque esses momentos foram sempre tão importantes e marcantes e depois vão-se desvanecendo. Já não nos lembramos delas muito bem, até que por fim elas se apagam por completo da nossa mente. Aquele momento tão lindo, tão importante, foi e já não volta mais. Já não há uma única gota daquele tempo feliz, daquelas palavras que nos sussurraram, daqueles movimentos tão ágeis e bonitos de se verem, foi-se tudo. Deixaram de ser memórias e passaram a ser o nada, porque já ninguém se lembra, porque foram substituídas por outras, que com o passar do tempo deixa de ser menos importante que a outra que foi apagada e é substituída por outra e assim por esta ordem.
Acabamos infelizes e insatisfeitos com a vida porque a nossa memória não consegue guardar tudo e o tempo só piora as coisas...
Deitamos lágrimas que acabam por nos secar por dentro e vivemos sob a base de substituirmos memórias por outras memórias, e o tempo acaba por alterar a ordem de tudo, ou criar uma ordem própria.